Qual romance você está lendo? - Folha de São Paulo.

Antes do Artigo, tenho que me justificar.

Boa tarde leitores! Tudo bem?
Logo após minha tragédia grega com o Homero, decidi ler um livro que muitas vezes é comentado pelo público que é o Assim falou Zaratustra, do Nietzsche. Este não me parece estar muito conectado com o que compreendemos normalmente por ficção, por ter um apelo muito filosófico e confesso que é isso que está me dificultando na leitura. Estou, hoje, na página 104 e, por minha vontade, desistiria. Todavia, acredito que, por não se tratar de uma narrativa qualquer, não posso simplesmente julgar que o autor não conseguiu captar a atenção do leitor. Afinal, o escritor é filósofo e nunca se propôs a produzir um romance.
Por isso estou insistindo.
A minha versão, da Martin Claret, tem 270 páginas, então devo demorar mais uma semana ou mais para terminar e, ao final dele, trarei o que entendi da história para contribuir.

Por enquanto, para não deixar o blog mais morto, trouxe um artigo da Folha de São Paulo, sugerido pelo meu namorado e que eu considerei muito interessante. Espero que gostem!

Qual romance você está lendo?

Sempre pensei que fosse sábio desconfiar de quem não lê literatura. Ler ou não ler romances é para mim um critério. Quer saber se tal político merece seu voto? Verifique se ele lê literatura. Quer escolher um psicanalista ou um psicoterapeuta? Mesma sugestão.

E, cuidado, o hábito de ler, em geral, pode ser melhor do que o de não ler, mas não me basta: o critério que vale para mim é ler especificamente literatura --ficção literária.
Você dirá que estou apenas exigindo dos outros que eles sejam parecidos comigo. E eu teria que concordar, salvo que acabo de aprender que minha confiança nos leitores de ficção literária é justificada.
Algo que eu acreditava intuitivamente foi confirmado em pesquisa que acaba de ser publicada pela revista "Science" (migre.me/gkK9J), "Reading Literary Fiction Improves Theory of Mind" (ler ficção literária melhora a teoria da mente), de David C. Kidd e Emanuele Castano.

Uma explicação. Na expressão "teoria da mente", "teoria" significa "visão" (esse é o sentido originário da palavra). Em psicologia, a "teoria da mente" é nossa capacidade de enxergar os outros e de lhes atribuir de maneira correta crenças, ideias, intenções, afetos e sentimentos.

A teoria da mente emocional é a capacidade de reconhecer o que os outros sentem e, portanto, de experimentar empatia e compaixão por eles; a teoria da mente cognitiva é a capacidade de reconhecer o que os outros pensam e sabem e, portanto, de dialogar e de negociar soluções racionais. Obviamente, enxergar o que os outros sentem e pensam é uma condição para ter uma vida social ativa e interessante.
Existem vários testes para medir nossa "teoria da mente" --os mais conhecidos são o RMET ou o DANVA, testes de interpretação da mente do outro pelo seu olhar ou pela sua expressão facial. Em geral, esses testes são usados no diagnóstico de transtornos que vão desde o isolamento autista até a inquietante indiferença ao destino dos outros da qual dão prova psicopatas e sociopatas.

Kidd e Castano aplicaram esses testes em diferentes grupos, criados a partir de uma amostra homogênea: 1) um grupo que acabava de ler trechos de ficção literária, 2) um grupo que acabava de ler trechos de não ficção, 3) um grupo que acabava de ler trechos de ficção popular, 4) um grupo que não lera nada.
Conclusão: os leitores de ficção literária enxergam melhor a complexidade do outro e, com isso, podem aumentar sua empatia e seu respeito pela diferença de seus semelhantes. Com um pouco de otimismo, seria possível apostar que ler literatura seja um jeito de se precaver contra sociopatia e psicopatia. Mais duas observações.
1) A pesquisa mede o efeito imediato da leitura de trechos literários. Não sabemos se existem efeitos cumulativos da leitura passada (hoje não tenho tempo, mas "já li muito na adolescência"): o que importa não é se você leu, mas se está lendo.
2) A pesquisa constata que a ficção popular não tem o mesmo efeito da literária. A diferença é explicada assim: a leitura de ficção literária nos mobiliza para entender a experiência das personagens.
"Como na vida real, os mundos da ficção literária são povoados por indivíduos complexos cujas vidas interiores devem ser investigadas, pois são raramente de fácil acesso."
"Contrariamente à ficção literária, a ficção popular (...) tende a retratar o mundo e as personagens como internamente consistentes e previsíveis. Ela pode confirmar as expectativas do leitor em vez de promover o trabalho de sua teoria da mente."

Em suma, o texto literário é aquele que pede esforços de interpretação por aquelas caraterísticas que foram notadas pelos melhores leitores do século 20: por ser ambíguo (William Empson), aberto (Umberto Eco) e repleto de significações secundárias (Roland Barthes).

Na hora de fechar esta coluna, na terça-feira, encontro a mesma pesquisa comentada na seleção do "New York Times" oferecida semanalmente pela Folha. A jornalista do "Times" pensou que a leitura literária, ajudando-nos a enxergar e entender os outros, facilitaria nossas entrevistas de emprego ou nossos encontros românticos.
Quanto a mim, imaginei que, na próxima vez em que eu for chamado a sabatinar um candidato, não esquecerei de perguntar: qual é o romance que você está lendo? E espero que o candidato mencione um livro que conheço, para verificar se está falando a verdade.

Por: Contardo Calligaris

Odisséia Fracassada (HOMERO da depressão)

Olá, leitores! Tudo bem com vocês?

Vim avisar que tive um azar problema no meu percurso literário que estava tendo! Comecei a ler A Odisséia de Homero, mas o meu livro, por ser muito muito muito velho, se despedaçou enquanto eu lia. Por isso, diferentemente da minha promessa de ler pelo menos 100 páginas, tive que interromper minha aventura na página 58.

Todavia, queria trazer para vocês o pouco que eu consegui trazer do livro!
Primeiramente, é importante se lembrar que não há confirmação se Homero realmente existiu. O que existe são obras que, muitas vezes, são dada a autoria por ele. Há até quem diga que o nome Homero seja a síntese de vários autores. E, no caso da Odisséia, ele constrói a mitologia grega (em forma de ficção, mas também com um sentido teológico para a época) baseada em concepções já difundidas na sociedade, na qual precisava de aprofundamento. Isso tudo 8 séculos a.C. aproximadamente.

Infelizmente, não tenho como trazer muito sobre a história em si. Até onde eu vi, em forma de prosa, se constituia na narrativa de Telêmaco, filho de Ulisses, que se vê em crise sem saber qual foi o paradeiro de seu pai depois de uma guerra, agregando ao fato de ter uma multidão de pessoas acampadas em sua casa querendo pedir a mão da sua mãe como esposa, já que, supostamente, o marido dela havia falecido. Nisso, ele segue em uma viagem, banhada de festas e heroismo, com a benção de Zeus, em busca de seu pai. 
Me parecia bem legal! Provavelmente quando meu Kindle chegar yey! o colocarei para ler. 

Porém, isso não me impedirá de continuar nas minhas Odisséias literarias! Em breve estarei trazendo outra resenha e pretendo eu trazer um artigo interessante essa sábado ao blog!

Abraços e boas leituras!

Livro Surpresa: A insustentável Leveza do Ser – Milan Kundera

Mas, Rebecca! Você demorou tanto para ler esse livro? O que houve?

Como o título já indica, o livro a qual passei três semanas para ler foi A insustentável leveza do ser, do Milan Kundera. O motivo perpassa por diversas ordens, seja do tempo, seja também pelo fluxo de leitura que o próprio livro permite. Por se tratar de uma obra fragmentada, é muito difícil manter a ordem cronológica de início, meio e fim. Isso, particularmente, me dificulta a leitura, apesar de ser, sem sombra de dúvida, uma obra invejável. Não é a toa que muitos elogios surgem.

O autor é tcheco, nascido em 1929 e está vivo, diferentemente dos outros que eu li recentemente. Além disso, sua pessoalidade dentro do livro, sem ser invasiva, é um detalhe, mas que, pessoalmente, faz toda diferença. Sua experiência com a Guerra Fria, do contexto tcheco e seu grande conhecimento cultural enriquece demais o livro. A(s) história(s) se desenvolve, no meio da invasão russa a Tchecoslováquia, com quatro personagens principalmente: Tomas, Tereza, Sabina e Frank.

Tomas é cirurgião e eu acho que é o personagem mais elaborado de toda obra. Ele deixa a primeira esposa e filho  e se aproxima de Tereza, uma jovem garçonete. Ele já tinha o costume de ter relações sexuais fora do casamento, mas percebe em Tereza algo diferente, que o obriga uma acolhimento diferente. O autor até usa a expressão de que ela fora levada pelas águas, como Moisés e outras figuras conhecidas, até ele.  Uma das mulheres em que Tomas as vezes se encontra é Sabina, pintora de personalidade forte. Ela, entretanto, tem um outro caso amoroso, muito mais longo do que com Tomas com Frank, um professor universitário cuidadoso, que também tem uma esposa e uma filha. Este é o aparato mínimo que se deve conhecer sobre a história. A partir disso, os personagens são elaborados por seus sentimentos, questionamentos e formas de se posicionar, se mesclando com a própria visão do autor nos mais diversos temas possíveis: sexualidade, política, religião, amor etc. O autor, brilhantemente, mescla tanto ele, quanto os personagens junto com grandes intelectuais da área da música, literatura e dos mitos, fazendo o próprio leitor pensar, junto com a história.

Apesar da visível capacidade do autor, a linguagem é muito agradável e possibilita que todo uso de termos filosóficos, da música ou de outros conhecimentos seja de fácil absorção durante a leitura, sem ser forçoso.  Mesmo para pessoas como eu que não gostam muito de filosofia, acaba se tornando muito leve e aproveitoso, sem que seja algo que repele no livro.

Outro fator, como citei antes, é a fragmentação do livro. O início do livro não é o início da história, da mesma forma como o meio e o fim. É dividido em capítulos a qual possui pequenos trechos que se completam como um quebra cabeça. Porém, é interessante frisar que não há nenhum interesse para que se possua todas as peças. Alguns momentos, se cria a inferência e, mesmo momentos que são um pouco fora da história principal, nunca são inúteis. Sem dúvida é de se parabenizar o autor que consegue construir muitas histórias paralelas sem ter enrolação.

E, de fato, é um autor brilhante. Não se tornou meu livro favorito, nem me fez emocionar demasiadamente, nem tocou em momento nenhum a assuntos que me são pessoais. Nada justifique que o livro em si seja meus favoritos, mas o autor, por sua consistência na forma que se desenvolve a obra, a maturidade e conhecimento, é, claramente, um dos melhores que já vi. Provavelmente, me verei lendo outros livros dele, mesmo não me interessando profundamente por seus temas, mas por sua capacidade.

Enfim, recomendo muitíssimo e aposto que, para muitos, será o livro favorito de todos os tempos.


Um abraço e boas leituras!